Hoje cruzei-me com esta reflexão do filósofo Séneca:
Diariamente criticamos o destino: "Porque foi este homem arrebatado a meio da carreira? E aquele, porque não morre, em vez de prolongar uma velhice tão penosa para ele como para os outros?" Diz-me cá, por favor: o que achas tu mais justo, seres tu a obedecer à natureza ou a natureza a ti? Que diferença faz sair mais ou menos depressa de um sítio de onde temos mesmo de sair? Não nos devemos preocupar em viver muito, mas sim em viver plenamente; viver muito depende do destino, viver plenamente, da nossa própria alma. Uma vida plena é longa quanto basta; e será plena se a alma se apropria do bem que lhe é próprio e se apenas a si reconhece poder sobre si mesma. Que interessa os oitenta anos daquele homem passados na inacção? Ele não viveu, demorou-se nesta vida; não morreu tarde, levou foi muito tempo a morrer! "Viveu oitenta anos!". O que importa é ver a partir de que data ele começou a morrer. "Mas aquele outro morreu na força da vida". É certo, mas cumpriu os deveres de um bom cidadão, de um bom amigo, de um bom filho, sem descurar o mínimo pormenor; embora o seu tempo de vida ficasse incompleto, a sua vida atingiu a plenitude.
"Viveu oitenta anos". Não, existiu durante oitenta anos, a menos que digas que ele viveu no mesmo sentido em que falas na vida das árvores. Peço-te insistentemente, Lucílio: façamos com que a nossa vida, à semelhança dos materiais preciosos, valha pouco pelo espaço que ocupa, e muito pelo peso que tem. Avaliemo-la pelos nossos actos, não pelo tempo que dura. Queres saber qual a diferença entre um homem enérgico, que despreza a fortuna, cumpre todos os deveres inerentes à vida humana e assim se alça ao seu supremo bem, e um outro por quem simplesmente passam numerosos anos? O primeiro continua a existir depois da morte, o outro já estava morto antes de morrer! Louvemos, portanto, e incluamos entre os afortunados o homem que soube usar com proveito o tempo, mesmo exíguo, que viveu. Contemplou a verdadeira luz; não foi um como tantos outros; não só viveu, como o fez com vigor.
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
e fiquei a pensar nisto...
12 comentários:
Mas é que concordo plenamente!
Já por isso, é que sempre digo que não tenho medo de morrer, mas sim de como poderei morrer... Se morresse hoje, morreria com um sorriso nos lábios... Porque morri enquanto estava vivo!
Também penso assim...
Vamos lá sorrir muito enquanto por cá andamos :-)
Beijoca
O quê? Tu hoje tropeçaste num pedaço de excelente prosa, servida por uma abordagem sócio-filosófica e... e citas-me o Zéneca (ou raio lá como se chama)!
Eu sorrio muito, não sorrio?
António, não tropecei porque levava os faróis ligados...
Su, sorris sim... e tens um (sor)riso lindo...
Beijinho a ambos... os dois (hoje com direito a pleonasmo e tudo...)
Bom poder de encaixe...
Por acaso já tinha lido e concordo em pleno, dá muito que pensar.
beijo
p.s. eu tb tou-me sempre a rir pá lol
Oh António... um elogio?!
Casemiro... eu parto-me a rir com os teus posts. Haja humor :-)
Ó lady: sobre isto enviei-te um email ao qual ainda não respondeste... Agora deu-te para o Zéneca (ou lá como é que se chama...!).
Ooops!
É o que se chama um cruzamento feliz! Vou continuar a pensar...
Beijinho para a Tia
:))
Su... Zéneca? Tu também?! :-)
Não recebi o teu email mas o iol anda outra vez com problemas...
:-) até tu te surpreendes António...
Miss Solarenga, haja vigor :-)
Beijocas três
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